Mineração
“Tão singela, que ninguém observa”.
É assim que dona Ediva Bastos, da comunidade Angico dos Dias, em Campo Alegre de Lourdes (BA), define o fino pó que passou a fazer parte do seu cotidiano há cerca de uma década e meia.
Às vezes imperceptível aos olhos, a poeira, e os graves problemas decorrentes dela, são percebidos e sentidos diariamente pela população local.
O pó é produzido 24 horas por dia, sem pausas, pela empresa de mineração Galvani, que extrai fosfato a poucos metros das casas dos trabalhadores/as rurais.
Ediva, conhecida como Dona Menininha, mora há mais de 70 anos na comunidade tradicional de fundo de pasto. Ela é uma das entrevistadas do documentário “Ninguém observa? Sufocados pela poeira e ameaçados pelo grileiro”, de Thomas Bauer, da Comissão Pastoral da Terra (CPT) Bahia.
Em seu depoimento, Dona Menininha conta com detalhes como a vida dela e de seus vizinhos eram um “cantinho do céu” antes da chegada da mineradora, que acabou com o sossego das comunidades na região.
Em 24 minutos, o documentário apresenta relatos de moradores/as do Angico dos Dias e das comunidades vizinhas Açu, Baixãozinho, Baixão Novo e Baixão Grande, também impactadas pela mineradora Galvani. São mais de 800 famílias convivendo com uma série de impactos socioambientais, a exemplo do desmatamento, poluição do ar, doenças respiratórias, contaminação de fontes de água e do solo, e perda de animais.
O território de Angico de Dias está localizado no norte da Bahia, na divisa com o Piauí. As comunidades do território são tradicionais de fundo de pasto. Há várias gerações, os/as camponeses/as ocupam tradicionalmente esse território, com pequenas roças individuais e fazendo uso coletivo da terra para criação de animais, de onde tiram seu sustento. Depois da instalação da mineração, as comunidades passaram a sofrer também várias tentativas de grilagem de suas terras – com ameaças à permanência no território e à vida dos trabalhadores/as – como mostra o documentário.
Para Thomas Bauer, o documentário tem um elemento de denúncia muito forte. Bauer comenta que a produção é uma tentativa de chamar a atenção para o tamanho descaso relatado pelos/as moradores/as, trazendo o questionamento, inclusive, no próprio título da obra. “Como é possível que ainda hoje encontramos uma situação como esta? Na qual, desde que a empresa se instalou os problemas persistem e, na verdade, pioram?” questiona.
Lançamento do documentário
A estreia de “Ninguém observa? Sufocados pela poeira e ameaçados pelo grileiro” será dia 1º de outubro, às 19h. O lançamento do documentário acontecerá em um evento online, transmitido pelo Youtube da CPT Bahia e páginas do Facebook da CPT Bahia, CPT Nacional e parceiros.
Após a exibição do documentário, haverá uma roda de conversa sobre os impactos da mineração com Edinei Soares e Ediva Bastos, da comunidade Angico dos Dias; Lucas Zenha, pesquisador do GeografAR/UFBA; e Pe. Bernardo Hanke, da Paróquia de Campo Alegre de Lourdes e integrante do Fórum de Entidades Populares do município. O cordelista e presidente da Associação de Fundo de Pasto de Baixão Grande, Baixãozinho e Baixão Novo, Antônio Silva, também participará do lançamento.
Para Edinei Soares, presidente da associação comunitária de Angico dos Dias e Açu, a produção do documentário foi uma conquista importante para a comunidade. “Vai contribuir muito pra gente poder mostrar como é a situação de uma comunidade que enfrenta os problemas da mineração e da grilagem. A gente vem lutando pra permanecer no território. O documentário é um instrumento bem importante, que vai ficar para as futuras gerações”, afirma.
O documentário “Ninguém observa? Sufocados pela poeira e ameaçados pelo grileiro” é uma realização da CPT Bahia, Associação Comunitária de Fundo de Pasto de Angico dos Dias e Açu, e Associação Comunitária de Fundo de Pasto de Baixão Grande, Baixãozinho e Baixão Novo, com o apoio de Misereor.
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Fonte: CPT Juazeiro-BA
Foto: Thomas Bauer/Divulgação