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Dom Pedro Casaldáliga: a história de um missionário que foi povo no meio do povo





Última atualização 22/08/2020, às 01:08
Dom Pedro Casaldáliga

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Dom Pedro: Nascimento

Dom Pedro Maria Casaldáliga Plá nasceu em Balsareny, na província catalã de Barcelona, no dia 16 de fevereiro de 1928. Ingressou na Ordem Claretiana, consagrada às missões, e foi ordenado sacerdote em 1952.

Em 1968, ano em que a ditadura implantou o AI-5, desembarcava em São Félix do Araguaia, região mato-grossense conhecida na mídia pela pobreza e pela disputa que a vasta terra “sem dono” despertava na elite econômica do país, incentivada pelo regime militar.

Em 1971, foi ordenado bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia. Amava tanto seu povo e seu rio que pediu para ser enterrado às margens do Araguaia, no cemitério Karajá, onde estão corpos de índios e trabalhadores sem terra explorados ou assassinados por grileiros ou a mando de grandes proprietários da região.

O bispo e sua gente foram duplamente perseguidos. De um lado, sofriam a pressão e ameaças de fazendeiros, grileiros e empresários em busca de terras. De outro, o grupo da Prelazia – religiosos, agentes pastorais e a população local – era associado à Guerrilha do Araguaia, que se estendeu de fins dos anos 1960 a 1974.

Documentos do Acervo da Prelazia de São Félix e historiadores relatam torturas, invasões de residência e toda sorte de violência contra dom Pedro, moradores e membros leigos da Prelazia. Moura Ferreira e José Pontim – que foi prefeito e vereador em São Félix do Araguaia – estavam entre os leigos torturados. Os militares buscavam indícios de que haveria ligação entre a Prelazia e os guerrilheiros do Araguaia.

No entanto, a Guerrilha do Araguaia ocorria no Sul do Pará, nas margens do mesmo Araguaia, bastante distante da Prelazia de São Félix. Para os militares era incompreensível que jovens abandonassem estudo e trabalho para se juntarem a um bispo estrangeiro.

Para dom Pedro, o inimigo eram a injustiça e a violência impostas aos moradores e índios. O responsável era um governo que incentivava o avanço das novas fronteiras agrícola e econômica, com o empenho de órgãos como a Sudam – Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia – e o Basa, o Banco da Amazônia.

Incansável, cheio de coragem na sua estatura franzina, dom Pedro era admirador de Che Guevara e Fidel Castro.

Foi um animador da Teologia da Libertação e implantou nas escolas da Prelazia o método Paulo Freire de educação. Está entre as lideranças mais representativas da Igreja Católica na América Latina. Participou da criação do Cimi (Conselho Indigenista Missionário) e da CPT (Comissão Pastoral da Terra). O mais contundente defensor da Reforma Agrária, era tido como o inimigo mais ferrenho pelos latifundiários.

Bispo emérito de São Félix do Araguaia, Dom Pedro Casaldáliga, morreu no último dia 8 de agosto, aos 92 anos, depois de três décadas convivendo com o mal de Parkinson. O povo o chamava de bispo dos pobres.

Fonte: Aureliano Biancarelli




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