Cerca de 800 pessoas desafiam o calor escaldante do fim das chuvas e caminham sob um rio de sombrinhas coloridas
Fonte: Ruben Siqueira
Na manhã de domingo (20/05) aconteceu em Campo Alegre de Lourdes a oitava romaria em defesa da vida, contra a mineração.
Cercade 800 pessoas desafiam o calor escaldante do fim das chuvas e caminham sob um rio de sombrinhas coloridas. São três km de poeira, da comunidade de Barreiro até o sopé do morro Tuiuiu, numa clareira em meio à caatinga na beira da estrada. O morro, ponto mais alto do município de cerca de 2.800 km2 e 30 mil habitantes, figura até no brasão da cidade. É rico em minérios – ferro, ouro, titânio e vanádio -, como são 82% do município.
A mineração de fosfato no maior povoado, Angico dos Dias, habitado por mais de mil pessoas, degradou violentamente a vida do lugar e assusta a população de toda a região. Outros empreendimentos estão chegando e trazem muita preocupação. A romaria, promovida pela Paróquia, Comissão Pastoral da Terra, Comunidades Eclesiais de Base e outras organizações da Igreja Católica, Sindicato dos Trabalhadores Rurais e entidades de apoio técnico-agrícola, quer ser um alerta e um apelo à resistência popular. Com paradas e depoimentos, em meio a cânticos e orações, a peregrinação focou o mesmo tema da Campanha da Fraternidade deste ano:“Superação da Violência: direito e dever de cada pessoa”.
Uma das falas contextualizou o crescimento da violência, suas raízes na expansão ilimitada do capital especulativo, que busca lastro e valorização em bens reais como a terra, a água, os minérios, e não respeita de fato nem leis nem direitos humanos, nem a democracia representativa nem o funcionamento da República. Todos os golpes políticos e sociais em curso no país são seu modo de operar. Outro depoimento apontou os índices alarmantes da criminalidade e da violência no campo e na cidade. Impactantes foram as falas de moradores do Angico dos Dias, que vieram em um ônibus, dar testemunho de sua dor e de sua disposição de lutar contra a violência da poluição e contaminação da mineradora Galvani/Yara e da grilagem de suas terras.
Ponto alto
O ponto alto da romaria é a celebração da missa, com bastante participação das pessoas alojadas nas poucas frestas de sombra das árvores. Como era Festa de Pentecostes, as falas e orações atualizaram o sentido da vinda do Espírito Santo, a continuidade da presença de Jesus na comunidade dos seus seguidores. Identificado como “sopro de vida” e “comunicador de dons”, o Espírito Santo anima a comunidade a se manter unida e na luta pelos seus direitos fundamentais contra as ameaças de morte, desigualdades e injustiças que emperram e atrasam a construção do Reinado de Deus. A mineração é apresentada como das maiores destas ameaças.
Fotos: Thiago Rocha