Bolsonaro usa Campo Alegre de Lourdes para amenizar sua rejeição no Nordeste
Depois da euforia, vem a reflexão:
Na manhã de quinta-feira (30/07) o presidente da república, Jair Messias Bolsonaro, usou de forma estratégica a população do município de Campo Alegre de Lourdes, na Bahia, para amenizar sua rejeição na região do Nordeste.
Bolsonaro seguiu a cartilha de um velho cacique na política, Ciro Nogueira (senador pelo Piauí) que pertence ao “centrão”. A ideia era que o presidente tivesse um momento populista para tirar fotos e fazer vídeos ao lado dos nordestinos em comemoração à chegada da água encanada
Ciro aconselhou: “Presidente, no dia que tiver uma imagem do senhor comemorando um poço jorrando e se molhando com esse povo, o senhor está reeleito”. Dessa forma, Bolsonaro decidiu ir até Campo Alegre de Lourdes para inaugurar a obra da adutora que foi iniciada em 2013 no governo petista.
A primeira parada foi em São Raimundo Nonato no Piauí, distante de Campo Alegre de Lourdes 71 quilômetros. A comitiva presidencial desembarcou no aeroporto Serra da Capivara.
Bolsonaro foi de encontro aos nordestinos, e estrategicamente colocou um chapéu de couro na cabeça e subiu num cavalo. Na sequência fez pose e gestos a serem documentados por sua equipe de comunicação. Depois seguiu de helicóptero para a cidade baiana de Campo Alegre de Lourdes.
O povo de Campo Alegre se alegrou com a chegada de um presidente pela primeira vez no seu solo. Mas, a alegria durou pouco. Depois do discurso curto e vazio de Bolsonaro, a população campoalegrense se viu novamente isolada e esquecida em suas demandas.
Campo Alegre de Lourdes fica a cerca de 800 quilômetros de Salvador, na divisa com o Piauí, e mais perto de Teresina. Faz parte do cerrado baiano e é atingida pela seca. Não existe nenhuma estrada pavimentada.
A esperança era que o Brasil soubesse da existência dessa pequena cidade de 30 mil habitantes, e pudesse surgir no líder maior o desejo de pelo menos pavimentar as rodovias federal (BR 235, BR 020). Mas isso é só um sonho.
Se depender de Bolsonaro, Campo Alegre de Lourdes continuará e continua sendo esquecida, isolada, riscada do mapa.
Bolsonaro usou a cidade de Campo Alegre de Lourdes para simplesmente conquistar uma popularidade que ele não tem. Depois de sua viagem ele disse, descaradamente que tinha ficado de pé, e que as pessoas estavam cercadas por tapumes e se esticavam para vê-lo. O que ele esqueceu de dizer foi que toda a estrutura montada em Campo Alegre de Lourdes teve a organização, minuciosamente aos cuidados da equipe presidencial.
A obra do sistema de abastecimento teve investimento de R$ 90 milhões do governo federal e teve a primeira etapa entregue em 2018. A captação da água é feita no lago de Sobradinho, na cidade de Pilão Arcado, que fica a cerca de 90 km de Campo Alegre de Lourdes.
A segunda etapa que parte de Campo Alegre de Lourdes até às localidades de Angico dos Dias e Feijão, e à qual o presidente fez alusão, ainda falta a parte de energia que não consta no contrato com a Codevasf.
As palavras do presidente da república foram tão inúteis, que não vale a pena reproduzi-las.
O que Bolsonaro deseja, além de registrar fotos populistas, é barganhar apoio de deputados e senadores em troca de liberação de emendas parlamentar.
Bolsonaro também de forma irresponsável, causou aglomeração, tirou a máscara e cumprimentou algumas pessoas, tendo em vista sua recente infecção pela covid-19, mesmo estando curado não se pode afirmar até que ponto ele não poderia contaminar às pessoas, ainda mais sabendo que essa semana sua esposa também foi diagnosticada com o novo coronavirus.
Na próxima vez que qualquer presidente for visitar o município de Campo Alegre de Lourdes, tenha a decência de tirar o calçado e andar pelo menos 1 quilômetro de estrada de chão. Dessa forma, talvez sucinta no seio do governo o desejo de asfalto e não assalto ao carisma e simpatia do povo nordestino.
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FOTO DA CAPA: ALAN SANTOS /PR